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Tradição
que se perde no tempo, realiza-se no dia 13 de Dezembro de cada ano, a popular “Feira dos Capões de Freamunde” em Paços
de Ferreira (a cerca de trinta quilómetros do Porto), data também dedicada a
Santa Luzia, que se venera nesse mesmo dia, como só a fé do povo o sabe fazer,
na sua Capelinha de Santo António, situada no terreiro da feira.
Romaria rural
antiquíssima, ligada pelo nome à advogada dos olhos, outrora com promessas de
«olhos vivos» (animais vivos), encontra o seu ponto alto na sugestiva Feira dos
Capões, cuja instituição oficial remonta a 1719, por provisão do rei D. João V,
datada de 3 de Outubro, realizando-se a feira pela primeira vez no dia 13 de
Outubro desse mesmo ano.
Este decreto terá tido, tão-só, a intenção de
acautelar os interesses da Confraria de Santo António, à qual pertencia,
antigamente, o terreiro onde se realizava a feira dos famosos capões – frangos
capados por meados de Março, com pouco mais de três meses e dois quilos de
peso, amputados dos seus órgãos reprodutores, de modo a que a sua carne atinja
um refinado e inigualável sabor. O seu peso varia entre os três e os sete
quilos, sendo os de maior valia os de penas avermelhadas, enquanto os de
plumagem negra ou pedrês possuem um valor menor.
O costume medieval de capar os frangos, de que há
registos em documentos datados do século XV, era, segundo parece, já prática
corrente em Freamunde séculos antes da sua legalização. É de supor que por essa
época a prática de capar os frangos não se limitasse somente a Freamunde, onde,
supostamente, se procedia, nesses tempos, sobretudo à sua comercialização. Hoje
já não é assim. Segundo informação, há quem se entregue à tarefa de capar à
volta de quatrocentos frangos por ano…
Da «operação cirúrgica», dir-se-á arriscada e
complicada, e que só as mãos experientes serão capazes de um verdadeiro
milagre. Se a «operação» for um êxito, tudo bem. Mas se assim não for, os Capões
passam a ser apelidados de «rinchões», o que não é de todo agradável nem para
os bichos, nem para as outras aves que com eles convivem, uma vez que se tornam
agressivos, e muito menos para quem os compra – por engano ou enganados.
Se a
«cirurgia» resultar imperfeita, o animal, como não é um galo, mas também não é
um Capão, vá de insurgir-se contra tudo
e contra todos, tornando-se numa espécie de galinha, a cantar como um galo,
infeliz e desadaptado. Outras vezes, os animais tornam-se nuns seres
tristonhos, embora bonitos e vistosos, passivos, incapazes de defender-se, se
bem que engordem sem necessitar de rações especiais, copiando a postura das
galinhas, em cacarejos e assustadiços, chegando ao ponto de se deixar bicar por
elas. Quando assim é, o seu valor comercial baixa bastante. A sua carne tem as
características de outro galináceo qualquer, a deixar enganar facilmente o
comprador, pois, na aparência, ninguém dirá que não se trata de um verdadeiro Capão.
A única maneira de descobrir se o bicho é ou não um «impostor», consiste em
apertá-lo por cima do bico: a certeza vem com uma valente bicada na mão de quem
fez a experiência, não restando, então, qualquer dúvida sobre a sua «verdadeira
identidade».
Para compensar estes deslizes e para orgulho e honra
dos Freamundenses, além de diversos historiadores e de cronistas famosos, nomes
como D. Francisco Manuel de Melo e o próprio Gil Vicente cantaram e elogiaram o
Capão como uma iguaria requintada e rara, muito frequente nos repastos e
banquetes reais, a pedir meças às outras aves que se apresentavam à mesa do
rei: o faisão, o pavão, a perdiz ou a galinhola.
Manifestação das mais típicas, populares e
concorridas na região de Entre Douro e Minho, à Romaria de Santa Luzia ou Feira
dos Capões, ciclicamente mantida nesta data, acorrem em apreciável número os
«galinheiros», que não se limitam a apresentar aos compradores somente os
famosos Capões, mas toda uma variedade de aves destinadas à capoeira –
sobretudo à panela, que o Natal está à porta: perus, em barulhentos e enormes
bandos, também eles muito requisitados, galinhas, patos, pombos, codornizes –
e, de vez em quando, com um pouco de sorte, até faisões.