sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

FEIRA DOS CAPÕES EM FREAMUNDE


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Tradição que se perde no tempo, realiza-se no dia 13 de Dezembro de cada ano, a popular “Feira dos Capões de Freamunde” em Paços de Ferreira (a cerca de trinta quilómetros do Porto), data também dedicada a Santa Luzia, que se venera nesse mesmo dia, como só a fé do povo o sabe fazer, na sua Capelinha de Santo António, situada no terreiro da feira.

  Romaria rural antiquíssima, ligada pelo nome à advogada dos olhos, outrora com promessas de «olhos vivos» (animais vivos), encontra o seu ponto alto na sugestiva Feira dos Capões, cuja instituição oficial remonta a 1719, por provisão do rei D. João V, datada de 3 de Outubro, realizando-se a feira pela primeira vez no dia 13 de Outubro desse mesmo ano.

Este decreto terá tido, tão-só, a intenção de acautelar os interesses da Confraria de Santo António, à qual pertencia, antigamente, o terreiro onde se realizava a feira dos famosos capões – frangos capados por meados de Março, com pouco mais de três meses e dois quilos de peso, amputados dos seus órgãos reprodutores, de modo a que a sua carne atinja um refinado e inigualável sabor. O seu peso varia entre os três e os sete quilos, sendo os de maior valia os de penas avermelhadas, enquanto os de plumagem negra ou pedrês possuem um valor menor.
 
                                         
O costume medieval de capar os frangos, de que há registos em documentos datados do século XV, era, segundo parece, já prática corrente em Freamunde séculos antes da sua legalização. É de supor que por essa época a prática de capar os frangos não se limitasse somente a Freamunde, onde, supostamente, se procedia, nesses tempos, sobretudo à sua comercialização. Hoje já não é assim. Segundo informação, há quem se entregue à tarefa de capar à volta de quatrocentos frangos por ano…

Da «operação cirúrgica», dir-se-á arriscada e complicada, e que só as mãos experientes serão capazes de um verdadeiro milagre. Se a «operação» for um êxito, tudo bem. Mas se assim não for, os Capões passam a ser apelidados de «rinchões», o que não é de todo agradável nem para os bichos, nem para as outras aves que com eles convivem, uma vez que se tornam agressivos, e muito menos para quem os compra – por engano ou enganados.        
                                                                                                            

 Se a «cirurgia» resultar imperfeita, o animal, como não é um galo, mas também não é um Capão, vá de  insurgir-se contra tudo e contra todos, tornando-se numa espécie de galinha, a cantar como um galo, infeliz e desadaptado. Outras vezes, os animais tornam-se nuns seres tristonhos, embora bonitos e vistosos, passivos, incapazes de defender-se, se bem que engordem sem necessitar de rações especiais, copiando a postura das galinhas, em cacarejos e assustadiços, chegando ao ponto de se deixar bicar por elas. Quando assim é, o seu valor comercial baixa bastante. A sua carne tem as características de outro galináceo qualquer, a deixar enganar facilmente o comprador, pois, na aparência, ninguém dirá que não se trata de um verdadeiro Capão. A única maneira de descobrir se o bicho é ou não um «impostor», consiste em apertá-lo por cima do bico: a certeza vem com uma valente bicada na mão de quem fez a experiência, não restando, então, qualquer dúvida sobre a sua «verdadeira identidade».
                                                                                                                   
                                           

Para compensar estes deslizes e para orgulho e honra dos Freamundenses, além de diversos historiadores e de cronistas famosos, nomes como D. Francisco Manuel de Melo e o próprio Gil Vicente cantaram e elogiaram o Capão como uma iguaria requintada e rara, muito frequente nos repastos e banquetes reais, a pedir meças às outras aves que se apresentavam à mesa do rei: o faisão, o pavão, a perdiz ou a galinhola.

Manifestação das mais típicas, populares e concorridas na região de Entre Douro e Minho, à Romaria de Santa Luzia ou Feira dos Capões, ciclicamente mantida nesta data, acorrem em apreciável número os «galinheiros», que não se limitam a apresentar aos compradores somente os famosos Capões, mas toda uma variedade de aves destinadas à capoeira – sobretudo à panela, que o Natal está à porta: perus, em barulhentos e enormes bandos, também eles muito requisitados, galinhas, patos, pombos, codornizes – e, de vez em quando, com um pouco de sorte, até faisões.
  






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