segunda-feira, 19 de agosto de 2013

POLITICA FINANCEIRA

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Toxidependência das finanças públicas
Mário Vieira de Carvalho

"Os cartéis da banca tornaram-se a maior ameaça com que se debatem actualmente países e governos do mundo inteiro. Foi nisso que deu a embriaguez, sem regras, da globalização. Tal como os cartéis da droga, os cartéis da banca geram o tráfico, os traficantes e a toxicodependência.
Já era conhecida a promiscuidade que torna impossível distinguir as linhas de fronteira entre os interesses de uns e de outros (além do mais, a cocaína é coisa que jamais escasseou entre os executivos de Wall Street!). Mas o que está agora em causa é muito mais do que isso: é a transposição para o sector financeiro da mesma lógica que rege o tráfico de droga. Com a agravante de o efeito letal para a humanidade ser muito mais profundo e global. Comparados com os traficantes da banca, os traficantes de droga não passam de uns pobres diabos. Nunca, como hoje, se comprovou tão flagrantemente o verso de Brecht, segundo o qual - considerada a dimensão do - o assalto a um banco nada é, com a fundação de um banco!...
Com efeito, os cartéis financeiros que hoje dominam o mundo conseguiram em poucos anos não só agravar a fome e a miséria onde elas já existiam, como também expropriar do património, do emprego, da esperança de vida, do futuro, milhões de famílias. São os motores de um conceito de crescimento que exaure os recursos naturais, destrói os ecossistemas e compromete perigosamente a longo prazo a viabilidade da própria vida humana. Capturam o poder político e põem-no a trabalhar para os seus negócios especulativos milionários. Forçam-no à suspensão da democracia e das garantias constitucionais, em nome duma nova prioridade absoluta imposta aos Estados: servir os interesses da banca. Eis em que consiste a chamada "crise das dívidas soberanas".
Quem confessa o crime são os próprios cartéis da finança, que encontraram o nome certeiro para o material que traficam: "produtos tóxicos". Inicialmente destinava se a conter os estragos da chamada "bolha imobiliária", mas hoje é claro que se aplica a um largo leque de operações de engenharia financeira.
Transferidos da posição de pequenos e médios funcionários dos grandes bancos internacionais para gestores de empresas públicas, secretários de Estado e ministros, aqueles que ontem vendiam passam agora a comprar. Só o negócio, os beneficiários e os patrões é que não mudam.

Este estado de coisas inscreveu-se de tal modo no senso comum como uma espécie de "segunda natureza" que ninguém - nem mesmo gente acima de toda a suspeita, bafejada pela sorte - assume qualquer espécie de escrúpulo quando é confrontada com a possível incompatibilidade entre as responsabilidades do governo e a suspeita de favorecimento ("capital económico" acumulado graças a "capital social"). Eram operações "normais", dizem, agora apenas salpicadas pela lama da gestão danosa que veio depois... Mas, enquanto os ganhos foram privatizados, os prejuízos foram "nacionalizados", repartidos pela generalidade dos cidadãos... Assim se fazem as coisas.

O próprio Tribunal de Contas não escapa a esta enxurrada que arrasta consigo o que restava dos valores do bem comum e do serviço público. Não perde uma ocasião para lançar dúvidas sobre a sustentabilidade do Estado social - como ainda recentemente se viu a respeito de uma "derrapagem" de 80 milhões na Saúde. Mas não se lhe ouve um balbúcio quando o chamado "Ministério" das Finanças paga 480 milhões de euros aos gigantes da banca pela "ajuda à colocação dos títulos de tesouro" nos "mercados": seis vezes mais do que a "derrapagem" na Saúde e mais de metade do que se pretende cortar nas pensões! Estas é que são as "boas  contas" conformes à Constituição da República?"


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