Centenário de Volta a França em direto na RTP
Volta
a França celebra 100.ª edição Fotografia © Stephane Mahe/Reuters
É já este sábado que a estação pública portuguesa
começa a emitir a 100.ª edição da emblemática prova de ciclismo, uma das mais
populares da Europa.
Em ano de celebrar um "número redondo",
a Volta a França vai ser transmitida pela RTP2, em direto e diariamente a
partir das 13h30, a começar já este sábado, até 21 de julho.
Com comentários de João Pedro Mendonça e Marco
Chagas, a competição de bicicleta vai quebrar a tradição nesta celebração do
100.º aniversário da prova. A etapa final será realizada ao pôr-do-sol e os
ciclistas irão competir sob as luzes dos Champs-Élysées.
"É sempre especialmente motivador dar voz à
Volta a França", confessa João Pedro Mendonça, que vai ser dar voz à
competição, acrescentando: "Ainda mais numa edição que tem tudo para ser
mesmo memorável: à centésima, onde a todas as viagens habituais do Tour, pelas
paisagens de França, pelo teste diário ao limite da capacidade humana, se junta
o regresso ao passado da prova, em imagens e testemunhos".
Para além da RTP2, também o canal de informação da
estação irá emitir diariamente às 20h00, um resumo de meia hora, com os
destaques do dia.
História
do Tour
O Tour de France (em português Volta da França ou
Volta à França) ou simplesmente Tour, é uma competição ciclística por etapas
disputada anualmente no mês de Julho. O percurso é composto por mais de 3000 km
de estradas irregulares e montanhosas que, de uma certa maneira, representam
uma volta na França.
O Tour de France é o mais prestigiado dos três
Grand Tours do calendário ciclístico na Europa; os outros são o Giro d'Italia
(Giro) e a Vuelta a España (Vuelta).
Também conhecido como la Grande Boucle ("o
grande laço"), o Tour foi criado em 1903 por Henri Desgrange, fundador do
jornal L'Auto (antepassado do diário esportivo francês L'Équipe), baseado em
uma idéia do jornalista Géo Lefèvre (1877-1961). O objetivo, na época, era o de
fazer concorrência às corridas Paris-Brest-Paris (patrocinada por Le Petit
Journal) e Bordeaux-Paris (patrocinada por Le Vélo).
O Tour tem sido disputado anualmente desde 1903,
mas foi interrompido durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Cerca de sessenta ciclistas participaram no
primeiro Tour de France e apenas 21 deles conseguiram chegar ao seu final.
A prova
teve início às 15:16 do dia 1 de Julho de 1903 em frente ao café Reveil Matin
em Montgeron, na periferia parisiense e era composta por 6 etapas ligando
Paris, Lyon, Marselha, Toulouse, Bordéus (Bordeaux) e Nantes. Maurice Garin foi
o vencedor deste primeiro Tour de France, que terminou em 19 de julho.
No começo, o Tour era uma corrida de enduro quase
contínuo. Os corredores dormiam na beira da estrada e não eram autorizados a
receber assistência alguma, mas vários participantes da segunda edição foram
excluídos por terem apanhado um trem em parte do percurso. Hoje em dia, o Tour
é uma corrida por etapas, isto é, é dividido em etapas diárias. Há veículos de
serviço (motocicletas e carros) que fornecem informações, alimento, água,
acesso a mecánicos ou até assistência médica. Alguns veículos são
"neutros" a todos os corredores pois pertencem à organização, outros
são próprios de cada equipa.
A maior parte das etapas são disputadas na França,
mas é muito comum algumas etapas serem disputadas em países adjacentes à
França, como Itália, Espanha, Suíça, Bélgica, Luxemburgo e Alemanha, e até
mesmo em países não adjacentes, como Irlanda, Inglaterra e Países Baixos. As
três semanas geralmente incluem dois dias de repouso, que são algumas vezes
aproveitados para transportar os corredores quando o final de uma etapa é muito
distante do início da etapa seguinte.
Nos últimos anos, a primeira etapa tem sido
precedida decurta de contra-relógio individual (1 a 15 km), chamada Prólogo
("Le Prologue"). O final tradicional é em Paris, nos Champs-Élysées.
Entre essas duas etapas, são disputadas várias outras, incluindo etapas de
montanha, contra o relógio individual e por equipas. As etapas restantes são
disputadas em terreno relativamente plano. Com a variedade de etapas, os
sprinters podem ganhar algumas etapas, mas o vencedor geral final é quase
sempre um especialista em etapas de montanhas e contra-relógio.
A montanha
Perfil da subida do Alpe d’Huez.
Muitos lugares, e especialmente montanhas, estão
frequentemente presentes no percurso geral do Tour (em praticamente todas as
edições), e ganharam relativa fama por isso. As montanhas mais conhecidas são
as de "categoria especial", com picos cuja dificuldade de ascensão
está para além de uma categorização normal, e incluem o Passo do tourmalet (Pireneus, 2114 m), Monte Ventoux (Provence,
1909 m), Passo do Galibier (Alpes, 2645 m), o Hautacam (Pireneus, 1800 m) e o
Alpe d'Huez, nos Alpes, com as suas famosas 21 curvas, culminando a 1850 m.
De maneira geral, as etapas de montanha,
juntamente com as etapas de contra-relógio, decidem o vencedor do Tour de
France, já que a diferença de tempo entre os ciclistas costuma ser muito maior
nestas que nas etapas em plano.
A
morte estúpida de Joaquim Agostinho, o melhor ciclista português de todos os
tempos.
Em 30 de Abril de 1984, faz hoje 25 anos, um cão
numa estrada algarvia e uma série de obstáculos na prestação de cuidados de
saúde imediatos – que representaram o retrato de um País atrasado e
desorganizado –, mataram Joaquim Agostinho, o melhor ciclista português de
todos os tempos. O atleta – que personificava como poucos o esforço, a
dedicação, a devoção e da glória do Sporting – tinha 41 anos e vestia a
camisola amarelo na Volta ao Algarve. Agostinho era o líder de uma equipa de
ciclismo do Sporting que o presidente João Rocha relançara nas estradas
portuguesas. E terminava a carreira no clube onde começou, depois de anos a
brilhar na Volta a França.
A morte de Joaquim Agostinho foi para mim um
enorme murro no estômago. Senti a morte do grande ciclista do Sporting, como se
ele fosse um familiar mais próximo. Uma tristeza enorme, durante dias de
ansiedade em que o homem estava ligado a uma máquina no Hospital da CUF, de
quem acompanhara dia a dia, pelos flashes noticiosos da rádio ou no "tempo
de desporto" do Telejornal da RTP (as únicas fontes de informação da
época, antes dos jornais do dia seguinte), a sua enorme carreira na Volta à
França - onde, mesmo em equipas pequenas, conseguiu excelentes resultados e foi
um exemplo de espírito de camaradagem e profissionalismo, ao abdicar da sua
vocação para chefe-de-fila em favor do colega de equipa que o treinador
designasse. Pouco tempo depois, o Sporting voltou a deixar as bicicletas. Elas
que foram decisivas na divulgação da marca leonina em todo o País, em
particular no interior. Na verdade, o ciclismo leonino já tinha morrido no ano
em que recomeçou, precisamente com a morte de Joaquim Agostinho. Com uma morte
tão estúpida, já nada fazia sentido.