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A festa
realiza-se no primeiro domingo a seguir ao dia 3 de Maio. É a festa que marca
definitivamente a Paróquia. Apesar de a padroeira ser St.ª Cristina, podemos
dizer que esta é a festa mais importante da vila e das mais importantes do
concelho, pelo valor ímpar do seu património imaterial.
Pensa-se, e com razão, que esta romaria festiva
está relacionada com a Festa da Cruzes, da cidade de Barcelos, já desde o tempo
em que a freguesia de Serzedelo pertencera ao termo de Barcelos (1758).
A única referência literária conhecida sobre a
Festa das Cruzes de Serzedelo está na obra de Alberto Vieira Braga, que a
Sociedade Martins Sarmento publicou na sua revista (Cfr. Curiosidades de
Guimarães, Revista de Guimarães, n 1-2, vol.LXXII, 1962, p. 104).
O domingo da Festas das Cruzes, em Serzedelo, tem
dois momentos altos que interessa referir aqui.
Dia
5 de Maio de 2013, às 9 horas
O
primeiro é a Procissão do Senhor aos Entrevados, de manhã.
Durante cerca de 3 horas, debaixo do palio, o
pároco vai levar a comunhão aos doentes retidos em casa e impossibilitados de
se deslocarem à igreja. Uma banda de música toca, a espaços, enquanto os fiéis,
da terra e de fora, vão alternando cânticos eucarísticos com a oração do
Rosário.
Dia
5 de maio de 2013, às 16 horas
O
outro momento é a Procissão das Cruzes, a meio da tarde.
Até 1995 começava com a recitação do terço na
igreja, continuava com a procissão entre a igreja e a Capela do Senhor do
Calvário, e concluía de novo na igreja, com a celebração da Eucaristia.
No percurso entre a igreja e a Capela, a banda de
música cantava uma espécie de Miserere (miserere mei Deus secundum magnam
misericordiam tuam) enquanto o pároco, debaixo do pálio, erguia nas mãos a cruz
com a relíquia do Santo Lenho e benzia as famílias reunidas junto de cada uma
das dezasseis cruzes.
Desde 1996 o ritmo da tarde foi modificado. Como a
festa decorre na plenitude do tempo pascal, substituiu-se a habitual Via Sacra,
mais apropriada ao tempo quaresmal, entretanto decorrido, pela Via Lucis,
celebração de carácter pascal.
A vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, na
Cruz, é o anúncio que devemos às pessoas de hoje e de sempre. Falando-lhes
apenas do pecado, da penitência, corremos o risco de lhes apresentar um Cristo
sem ressurreição? e, portanto, uma vida cristã sem razão nem sentido. Foi esse
risco que se quis evitar.
Em vez da oração do terço, tudo começa pelo rito
inicial da Via Lucis, seguindo-se a procissão. Nesta, vai à frente o Círio
Pascal, seguido por dezasseis adolescentes com velas acesas (que ficam junto de
cada uma das cruzes, à medida que a procissão passa por elas), o pároco debaixo
do palio, o Grupo Coral e todo o povo. As famílias estão na mesma junto da
respectiva cruz, enfeitada de flores. O pároco pára diante de cada cruz onde se
faz o ritual de cada Glória, assim se chamam agora as antigas estações da Via
Sacra, e só quando se canta o Ressuscitou é que o pároco dá a bênção com o
Santo Lenho sobre a família, concluindo-se a oração com o Glória ao Pai.
O
cerimonial repete-se ao longo das dezasseis cruzes.
Como o espaço do percurso é relativamente breve e
as cruzes estão a poucos metros umas das outras, o tempo da deslocação é
preenchido com o cântico do Aleluia. Por isso, a banda de música deixou de
acompanhar a procissão, tornando-se esta mais orante e mais festiva pelo tom
dos cantos pascais.
Após a última Glória, assim se fez em 2001, e já
dentro da igreja, é feito o sermão que tem por Palavra as 16 Glórias. No final
do sermão é feita a renovação das promessas do Baptismo. Segue-se a celebração
da Eucaristia dominical que, agora começa no Ofertório, rezando-se no final a
Oração para o Dia do Senhor com a qual se encerram as celebrações de índole
religiosa das festas. Têm a forma de cruz latina e existem 16. São de madeira
de carvalho ou de castanho, com a espessura de 3,5 cm e a altura máxima de 2
metros. Apresentam símbolos litúrgicos e profanos, esculpidos de modo a
permitirem o preenchimento em flores naturais.
Pertencem por herança a outras tantas famílias.
Algumas há que já não moram em Serzedelo, mas, neste dia, aparecem ornamentadas
no local que sempre ocuparam. São herdadas pelo filho ou filha mais velhos da
casa. Contudo, a pessoa, pode deixar a cruz a quem julgar mais digno de
respeitar a sua conservação e participação na festa. São ouvidos os filhos e,
só a extrema falta de meios económicos é motivo desta resolução. Se mesmo assim
não se encontrar quem a assuma, a cruz é deposta junto da Capela do Senhor do
Calvário. A primeira pessoa que der por ela e possua meios, tomará essa cruz
que ficará integrada no património familiar de acordo com o direito
tradicional.
AS
CRUZES
Sábado,
dia 4 de Maio de 2013, durante todo o dia
Uns dias antes de proceder ao assear da cruz
(ornamento), é metida em água fria para humedecer a madeira e dela se retirar
os restos dos ornamentos anteriores e para que a humidade facilite a aderência
da nova pasta de que será revestida. Esta pasta é feita com farinha de centeio
desfeita em água que se mexe bem e faz ferver.
As flores naturais utilizadas são as seguintes:
pregos de oiro, conhecidas no vocabulário erudito por perpétuas, utilizados
prioritariamente no cálice e na custódia; sardinheiras de várias cores;
patifes, espécie de cravinas simples; margaridas pequeninas; cravos vermelhos,
brancos, cor-de-rosa, dos quais se aproveitam somente as pétalas; e perpétuas
roxas, cujo nome também se ouve chamar de martírios. Quando se verifica a
carência de flores naturais, depois de muito esforço despendido da parte das
famílias, usa-se o papel de seda de acordo com as flores e as cores que se
pretendam suprir.
Concluída a ornamentação das cruzes, a periferia é
guarnecida com uma renda de papel de lustro, a fim de encobrir os remates da
aplicação das flores, os vestígios da pasta de farinha e obter um acabamento de
bom efeito estético.
O trabalho é terminado quando se coloca na parte
superior e extrema da cruz uma imagem do Menino Jesus, com dimensões de 18 a 25
cm, vestido de setim branco, cor-de-rosa ou azul claro, apresentando nas orlas
do fato galões de ouro ou de fio metálico dourado.
A
condução da cruz é também objecto de devoção.
Depois de ornamentada, é levada, na tarde da
festa, para o lugar que sempre ocupou no itinerário da cerimónia, é introduzida
numa base de granito em forma de paralelepípedo e, para que se mantenha na vertical
e segura, utilizam-se cunhas de madeira ou ferro que já estão preparadas para
esse efeito.
Dia
5 de maio de 2013, às 9 horas
(O primeiro é a Procissão do Senhor aos
Entrevados, de manhã).
Os tapetes vêem-se apenas nos lugares por onde irá
passar a Procissão do Senhor aos Entrevados. A finalidade consiste em unir o
templo, a igreja, com a habitação dos enfermos dispersos pelos vários lugares
da paróquia.
Nas semanas que antecedem a festa, os moradores
dos lugares por onde irá passar a procissão fazem todos os esforços, mesmo fora
da paróquia, para conseguirem obter a quantidade e variedade necessária de
flores naturais que lhes permita executar o número de metros que em parceria
com os vizinhos aceitaram fazer. Nota-se entre eles uma sadia competição que
estimula e engrandece a beleza dos tapetes. Velhos, jovens e crianças do mesmo
lugar unem-se num trabalho comum e desinteressado, de forma impressionante.
Sempre que não é possível obter a quantidade
necessária de flores naturais, é costume adquirir serrim, que depois é tingido
num banho frio, em água comum, na qual se dissolveu previamente o pó da tinta a
empregar.
Na realização dos tapetes usam-se, há
relativamente pouco tempo, formas de madeira com elementos geométricos,
simbólicos (a pomba, o cálice, o túmulo, a cruz latina) bem como legendas (mais
raras), alusivas a motivos religiosos ou, simplesmente, ao bairrismo do lugar
que faz a ornamentação.
Todo o trabalho é realizado durante a noite e
madrugada de domingo, não havendo qualquer interrupção no seguimento dos
tapetes. Nos dias em que se realizam as festas, esta vila é visitada por muitos
turistas. Assim, convidamos todas as pessoas a visitarem Serzedelo por esta
altura.